DELFINA DA CUNHA – A poetisa cega

Delfina da Cunha
Delfina da Cunha

Seu nome batiza uma rua pequena, de duas quadras, no bairro Camaquã, mas sua história é grande e especial, precursora da poesia feminina no Rio Grande do Sul, foi ela quem publicou o primeiro livro de poesias do RS, no ano de 1834, “Poesias oferecidas às senhoras Rio-grandenses”.

Nasceu na fazenda do Pontal, na cidade de São José do Norte, no dia 17 de Junho de 1791, filha do Capitão Mor Joaquim Francisco da Cunha e Maria de Paula Cunha, DELFINA BENIGNA DA CUNHA, ficou cega com quase dois anos de idade, devido a um surto de varíola ocorrido na cidade no ano de 1793, além de marcas na pele das feridas causada pela doença.

Conforme crescia, Delfina tomava consciência da sua condição de cega e desenvolvia seus outros sentidos, como todas as crianças era muito curiosa, quando estava com 12 anos, criou uma poesia e pediu que os pais escrevessem:

“Vinte vezes a lua prateada

Inteiro o rosto seu mostrado havia

Quando o terrível mal que eu já sofria,

Me tornou para sempre desgraçada.”

Na poesia, Delfina faz alusão ao início de sua cegueira, aos vinte meses de idade.

A sua instrução foi feita oralmente por seus pais, com muito carinho e paciência, já que o sistema criado por Louis Braille só chegou ao Brasil muito anos depois, quando ela já contava com mais de cinquenta anos de idade.

Começava na adolescência o processo criativo das poesias, que ela criava e guardava na memória, até tê-las por prontas, quando então ditava aos pais ou as amigas, para que fossem escritas.

Delfina contava com 35 anos seu pai faleceu e aos 41, sua mãe. Ela ficou desamparada financeira e emocionalmente, então escreveu um soneto ao Imperador Dom Pedro I, o que lhe garantiu pensão vitalícia, pelos serviços prestados por seu pai à Pátria.

Lembram que falei no primeiro parágrafo do seu primeiro livro? Pois então, ele foi um sucesso, pois era em formato de bolso e cabia na bolsa das mulheres, chegou a ser reeditado, dessa vez no Rio de Janeiro. Em seguida ela lançou outros livros: “Florilégios da Infância, Seleta Brasileira, Tributo de Gratidão” e um livro especialmente dedicado à Imperatriz dona Amélia, após a morte de Dom Pedro I, “Coleção de várias poesias dedicadas a Imperatriz Viúva.”

Ela teve uma paixão platônica, pelo Major Manoel Masques de Souza, o futuro Conde de Porto Alegre, ele com 40 anos e ela já com 54, encontraram-se em um baile, uma amiga avisou-a que ele estava próximo e ela declamou uma poesia improvisada, a fim de que ele ouvisse:

Dizer-te quanti senti,

Ai!, não posso caro amante,

Naquele ditoso instante,

No momento em que te vi,

Foi então que eu conheci,

O Quanto sensível sou!

Meus passos amor guiou,

Para junto de teu lado,

E de amor arrebatado,

Meu coração palpitou.

Delfina tinha consciência de que não poderia ter o amor do amado, quatorze anos mais jovem e devido as suas marcas deixadas pela varíola e também pela cegueira, mas em seu mundo particular eles eram felizes para sempre.

Delfina faleceu na cidade do Rio de Janeiro aos 65 anos.

Além da rua no bairro Camaquã, o seu nome está estampado como patrona da Cadeira nº 1 da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul, e na de nº 39 da Academia de Artes Literárias e Culturais do Estado do Rio Grande do Sul. Também batiza a Escola Municipal Ensino Fundamental Delfina Benigna da Cunha em São José do Norte, sua cidade natal e também a rua Delfina da Cunha, na cidade de Imbé – RS.

Texto de Miriam Lima

Fontes: https://literaturars.com.br/2021/12/14/eliane-tonello-delfina-benigna-da-cunha-na-historia-gaucha/ consultado em 27/02/2022

TERRA, Eloy – As ruas de Porto Alegre: Curiosidades; Como batizar uma rua ; Ruas de muita história, Porto Alegre, 2001

Imagem: seguinte.inf.br

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