Hospedaria do Cristal – Imigrantes

Mapa_hospedaria_cristal

Dom João VI já pensava na imigração de europeus para o Brasil a fim de substituir o trabalho escravo pelo trabalho livre e a grande propriedade pela pequena propriedade e também a fim de povoar o Brasil.

Como início desse processo de imigração no Brasil, cria-se as colônias de Nova Friburgo e São Leopoldo, por volta dos anos 1820, com a entrada de alemães.

Devido ao fim da escravidão no Brasil, houve falta de mão de obra para a manufatura do café, em 1847 foi criado um sistema de parceria entre os fazendeiros de café e os imigrantes que queriam vir para o Brasil, neste contrato ficou estabelecido o pagamento da passagem transatlântica e do transporte do porto para a fazenda, além de uma ajuda para as primeiras colheitas; em troca, ao invés de salários e pagamentos por empreitada, os trabalhadores foram obrigados a dividir seus lucros com o proprietário das lavouras como forma de pagamento pela ajuda prestada durante a sua chegada, tendo, inclusive, de pagar com juros os adiantamentos que lhes foram concedidos, o que equivalia ao trabalho escravo. O que ocasionou uma imagem negativa do país, em face da imigração.

Porém, no período de 1874 e 1889 houve promulgação de leis que davam facilidades à imigração e à colonização a fim de estimular a vinda de imigrantes para o Brasil, e foi feita uma propaganda para atrair os novos colonizadores, a propaganda dizia: “que o Brasil era um país afável, gentil, onde tudo se multiplicava à larga” com “uma natureza luxuriante e benfazeja, da qual seria possível extrair alimentos à vontade” e, o mais importante, onde “seria fácil enriquecer”. E a propaganda funcionou, já que nos anos finais do Império, a imigração aumentou significativamente.

Já no Rio Grande do Sul buscavam-se imigrantes para povoar as terras virgens do Império, não aproveitadas, o que permitiria o aumento da produção e do comércio, além do desenvolvimento do estado com a abertura de estradas que facilitariam as comunicações.

Antes da hospedaria do Cristal, houveram outros prédios que abrigaram os imigrantes recém chegados, uma delas é a Hospedaria da Praça da Harmonia (atual praça brigadeiro Sampaio), que durou dezenove anos, foi criada em torno de 1868 e tinha capacidade para abrigar 2000 pessoas em galpões, foi desativada devido as más condições dos prédios e falta de verba do governo.

No ano de 1890, foi criada a Hospedaria do Cristal, para abrigar os imigrantes que chegavam ao Rio Grande do Sul, e ficava localizada onde hoje é o Jockey Clube, a Hospedaria do Cristal, que passou a funcionar com barracões construídos provisoriamente.

Iniciaram-se, então, os trabalhos para a construção dos alojamentos, do refeitório, da farmácia e das demais dependências necessárias para recepcionar os imigrantes e alojar os empregados, que deveriam permanecer ali constantemente, a obra iniciou em janeiro de 1891 e suspensa em novembro, devido novamente a falta de verbas do governo, dois anos depois a situação continuava a mesma e devido ao elevado número de imigrantes que chegavam ao estado nesse período, a aglomeração de pessoas gerou epidemias que levaram a óbito muitos imigrantes, reclamando-se a construção urgente de uma enfermaria. Diante do número elevado de mortes foi necessário construir um novo lugar para sepultar os imigrantes, adquirindo-se gratuitamente uma propriedade que deu lugar ao cemitério da Tristeza.

Os registros do Arquivo Histórico demonstram que entre 1891 e 1895 foi enorme o tráfego de imigrantes na hospedaria. Os italianos chegaram em maior quantidade, seguidos dos alemães, poloneses e espanhóis, segundo relatos de quem conheceu e passou pela hospedaria, havia capacidade para 3.000 pessoas.

Registro Diário

Existem registros de que a hospedaria funcionou até o ano de 1905, a partir daí não existem mais anotações nos arquivos.

A corrente imigratória teria diminuído neste período, e também o prédio foi requisitado pela Brigada Militar, que instalou ali o efetivo do 3° Batalhão de Infantaria, já que havia alojamento suficiente para os brigadianos na cidade.

Importante salientar que por ali passaram muitas das famílias que povoaram a nossa zona sul de Porto Alegre, como: Monteggia, Passuelo, Pellin, Capra, Bernardi, Gaelzer, Soligo, Tessera, Winge, Salomoni, entre outras.

Existem histórias cotidianas, que ficaram documentadas no Arquivo Histórico, aos poucos posso trazer para o público.

Texto: Miriam Lima

Fontes:

Arquivo Histórico do RS

GABRIELA UCOSKI DA SILVA – Tese de Pós Graduação História – HISTÓRIA E ASPECTOS DO COTIDIANO DA HOSPEDARIA DE IMIGRANTES DO CRISTAL PORTO ALEGRE (1890-1898) – PUC, 2014

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