HISTÓRIA DO BAIRRO PONTA GROSSA

Ponta grossa

Apesar de ter sido criado pela legislação municipal (Lei 6893) de 1991, o bairro Ponta Grossa tem história de longa data, o local recebeu este nome por se situar em um destacado acidente geográfico na orla do Guaíba: uma ponta (pequena península) que adentra o lago no sentido leste-oeste, e imediatamente sobre essa “ponta” erguem-se os 145 metros do Morro da Ponta Grossa, uma das maiores elevações da capital gaúcha, justificando assim o uso do adjetivo “grossa”.

Ainda no século XVIII, o conjunto composto pela ponta e pelo morro, já recebia eventualmente a denominação até hoje utilizada, pois, conforme uma pesquisa de Clovis Silveira de Oliveira, autor do livro “Porto Alegre: a cidade e sua formação”, o diário de expedição do português Gomes Freire de Andrade cita a passagem desta comitiva pela “Ponta Grossa” no ano de 1754, enquanto navegando pelo Guaíba. Além disso, em um antigo mapa de 1763, elaborado pelo engenheiro militar José Custódio de Sá e Faria, consta a denominação grafada “Ponta Groça”.

A Ponta Grossa era, naquela época, um grande rincão de terras e pertencia a Anna da Guerra Peixoto (falecida em 1791). No dia 20 de abril de 1780, ela vendeu o chamado “Rincão Grande”, e todos os animais que haviam no local, para Antônio Cardozo da Silva. A antiga escritura de venda foi registrada no Livro 6 do 1° Tabelionato de Porto Alegre e encontra-se mantida no acervo do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul.

Em 1884, o major Francisco da Costa Peixoto (1846-1920) adquiriu uma parte considerável do rincão dos herdeiros do espólio de Antônio Cardozo da Silva, que abrangia porções desde a atual Avenida Juca Batista, a norte, até a Avenida Serraria, ao sul. O major Peixoto foi pioneiro no bairro ao construir uma olaria na região, próximo da orla do Guaíba, utilizando como matéria prima a argila que coletava nas margens do Arroio do Salso. Em outubro de 1909, o major Peixoto fez a inauguração “oficial” da pequena fábrica com a aquisição do maquinário da Bromberg & Company para a fabricação de telhas e tijolos. Após a morte do major Peixoto, a olaria continuou sendo administrada por seu filho Átila realizou a venda de parte das terras, em 1939, para a família do general José Antônio Flores da Cunha, promovendo o gradual loteamento da região.

Na década de 1960, o terreno da olaria do major Peixoto acabou adquirido pelo “Clube Social do Médico”, então um departamento da AMRIGS (Associação Médica do Rio Grande do Sul), restando ainda a ruína da chaminé da antiga fábrica.

Ruínas da Pedreira

O arquiteto e chefe das obras públicas do Estado Affonso Hebert, foi contratado para elaborar a “Planta do Rincão da Ponta Grossa”, finalizado em março de 1897. O documento registra que a área da propriedade era de cerca de 651 hectares, bem como situa a morada, a antiga olaria e um pequeno porto do major Peixoto na área que corresponde hoje aos fundos do terreno do “Clube do Médico”. O mapa antigo de A. Hebert também registra a pedreira nas proximidades do Morro da Ponta Grossa, a qual daria nome ao logradouro “Estrada da Pedreira” posteriormente.

Da antiga pedreira no Morro da Ponta Grossa e de outras existentes na cidade, como falamos no artigo sobre o Sr. João Mendes Ouriques, do Bairro Guarujá, foram extraídas rochas de granito para a construção de prédios importantes no Centro Histórico de Porto Alegre, bem como residências das elites.

Em junho de 1912, foi inaugurada a ponte sobre o Arroio do Salso, o qual delimita geograficamente o bairro ao norte. O lugar dessa ponte, que se situa na hoje denominada Avenida da Serraria, era conhecido naquela época como “Passo do Estiva”. A ponte também representou a facilitação das viagens entre a capital e a região de Belém Novo, Lami e Itapuã, bem como beneficiou os negócios da olaria do major Peixoto e de outros comerciantes e produtores de leite, madeira, lenha e outros produtos da região.

Em julho de 1928, por ordem do delegado fiscal e major Lincoln do Amaral Camargo, da Secretaria de Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional em Porto Alegre, lançou-se um edital para que peticionários de concessão de aforamento de terrenos nacionais no bairro Ponta Grossa, às margens do rio Guaíba, apresentassem alegações que julgassem a bem de seus direitos. No referido edital, publicado no Jornal A Federação, apareceram os nomes dos seguintes peticionários: Alfredo Schueler & Theo Wiederspahn  e Henrique Augusto Fernando Schwarz .

Esse edital demonstra quem eram, no final da década de 1920, os três grandes proprietários junto à orla do Morro da Ponta Grossa, e que se tornaram por lei os arrendatários dos terrenos marginais do Guaíba, lindeiros a suas propriedades particulares. Logo depois do edital, esses proprietários iniciaram seus respectivos loteamentos, com o arquiteto Theo Wiederspahn encabeçando os projetos de parcelamento do solo.

Na década de 1930, os terrenos da Ponta Grossa às margens do Guaíba passaram a atrair compradores interessados em casas de veraneio ou em sedes campestres.

Em maio de 1939, através do decreto-lei nº 1.240, assinado pelo então presidente Getúlio Vargas, uma área de 9.610 m² com suas benfeitorias foi desapropriada de João Pedro da Rosa em favor do Ministério da Agricultura, após tentativas sem êxito para uma “aquisição amigável” e com indenização a ser paga pelo governo estadual. Neste terreno, em uma colina da Ponta Grossa, foi instalada a ‘Estação Experimental de Caça e Pesca’. Posteriormente, essa estação cresceu em importância e se tornou conhecida como Laboratório Nacional Agropecuário do Rio Grande do Sul (Lanagro/RS), hoje denominado como Laboratório Federal de Defesa Agropecuária do Rio Grande do Sul (LFDA/RS).

A história do bairro também está ligada ao arquiteto alemão Theo Wiederspahn (1878-1952), conhecido por ter projetado importantes prédios na capital e proprietário de uma chácara na orla sul da Ponta Grossa. Além de ter comandado a construção da “Estação Experimental de Caça e Pesca”, Wiederspahn também concebeu o loteamento “Retiro da Ponta Grossa”, na porção do morro, uma iniciativa de Felippe João Schwartz, dono de um negócio de secos e molhados na rua Voluntários da Pátria. O mapa desenhado por ele data de 1937, tendo sido aprovado pela antiga Diretoria de Viação da Prefeitura de Porto Alegre, denominado “Projeto de Arruamento em Retiro da Ponta Grossa, do senhor Felippe João Schwarz”. O loteamento, contudo, não foi totalmente concluído, e hoje o morro abriga, em meio à mata, escadarias em pedra executadas pela firma de Wiederspahn que serviriam de passeios do loteamento. Em julho de 1950, dois anos antes de falecer, Theo Wiederspahn elaborou outro mapa representando a divisão dos lotes na orla sul do bairro. O documento pertence ao acervo da Secretaria Municipal de Urbanismo (Smurb). Wiederspahn também projetou e construiu diversas residências na Ponta Grossa.

Em 1952, o Grupo Diários Associados, então comandada por Assis Chateaubriand, construiu no bairro Ponta Grossa o prédio da Antiga Estação Transmissora da Rádio Farroupilha. A inauguração recebeu especial cobertura da imprensa na época e contou com a presença de autoridades ilustres. No entanto, o prédio só continuaria funcionando como estação transmissora até o ano de 1986, quando foi desativada pela nova proprietária da Rádio Farroupilha, o Grupo RBS. (Leia o artigo aqui).

Em setembro de 1956, o então secretário municipal de Transportes Pedro Tassis Gonzales atendeu ao pleito de uma comissão de moradores da Ponta Grossa e do bairro Serraria e solicitou a colocação de um ônibus aos sábados entre os bairros e a zona de Ipanema, para facilitar a ida de residentes até a feira livre semanal de Ipanema.

Em novembro de 1964, quando a cidade passava pelo seu período de metropolização, uma comissão de moradores de uma zona do bairro em particular pleiteou a ligação de rede elétrica para seus lares, a fim de trazer progresso e desenvolvimento à região.

Em 23 de junho de 1968, inaugurou-se a pedra fundamental do que viria a ser a Capela de São Brás, hoje vinculada ao Santuário de Santa Rita de Cássia, sediada no bairro Guarujá. Na ocasião, a pedra foi benzida pelo bispo Edmundo Luís Kunz. Projetada pelo engenheiro Plínio Totta, a construção da capela foi feita então gradualmente, com os alicerces erguidos em outubro e as paredes, em novembro. A primeira missa da capela ocorreu em agosto de 1968, em plena construção. Em 2 de fevereiro de 1969, o pároco benzeu oficialmente a capela São Brás, que à altura ainda estava por acabar.

Para o bairro Ponta Grossa, especificamente, o primeiro Plano Diretor estabeleceu: as “unidades territoriais de planejamento”, ao longo de suas principais vias: a Estrada Retiro da Ponta Grossa (incluindo o atual logradouro conhecido como Avenida Principal da Ponta Grossa), a Estrada da Ponta Grossa e a Avenida Juca Batista; as “áreas funcionais de interesse paisagístico e cultural” com potencial de lazer e potencial rural; e por fim as “áreas funcionais de preservação permanente”, com potencial de reserva ecológica (na área do Morro da Ponta Grossa) e com potencial de ambiente natural (na várzeas do Arroio do Salso), e “parque natural” (para a colina e para um longo trecho na orla sul aos fundos do atual LDFA/RS e do Clube Social do Médico).

A Avenida Principal da Ponta Grossa, criada oficialmente em 29 de junho de 2015, pela Lei n.° 11.860, é a via que concentra a maior parte do comércio e da prestação de serviços no bairro Ponta Grossa.

Antes era chamada de “Estrada Retiro da Ponta Grossa”, e era frequentemente confundida com outro logradouro homônimo no bairro, de modo que havia dificuldades para a entrega de correspondências e mercadorias. A avenida se situa entre as rótulas da Estrada da Ponta Grossa e da Avenida Juca Batista. Ainda existia o Beco da Ponta Grossa, atualizado pela Lei 12335/2017 para nominação de Rua Aldo Alves da Silva.

Ainda que possua sedes campestres e propriedades com atividades agropecuárias, o bairro Ponta Grossa, não está inserido na chamada Zona Rural de Porto Alegre.

Para quem quiser conhecer esse bairro tão lindo e presentado pela natureza, sugerimos o Projeto Histórias da Ponta Grossa: https://www.facebook.com/historiasdapontagrossa ou contato@historiasdapontagrossa.poa.br

Texto de Miriam Lima

Colaboração: Vagner Eifler

Fontes: https://leismunicipais.com.br/legislacao-municipal/5519/leis-de-porto-alegre acessado em 13/09/2022 às 15h17min

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ponta_Grossa_(Porto_Alegre) acessado em 13/09/2022

Imagens: Wikipedia

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