Padre Cacique

Padre Cacique

Joaquim de Barros, nasceu em Salvador (BA) em 11 de agosto de 1931, filho de José Raimundo de Barros, mestre construtor de barcos, e Alexandrina Rosa. Seu pai lhe apelidou de “Cacique”, devido sua determinação e energia, ainda pequeno, apelido pelo qual se tornaria conhecido. Ainda jovem manifestou o desejo de seguir a carreira religiosa Depois de bem sucedidos estudos elementares, foi admitido no Seminário de Salvador para estudar Teologia. Formou-se, mas ainda não tinha chegado à idade canônica para ser ordenado, e então prosseguiu seus estudos no campo da Pedagogia, imaginando tornar-se professor. Aceitou um convite para lecionar as disciplinas de História, Geografia e Cosmografia no Ginásio Baiano.

Se tornou sacerdote em 1853, mas devido a um problema de saúde se mudou para o Rio de Janeiro, onde deu aulas no Mosteiro de São Bento e no Colégio Pedro II. Lá estudou matemática. Em 1862 decidiu mudar-se para Porto Alegre, onde desenvolveu a parte mais importante de sua vida e carreira.

Pouco depois de chegar foi nomeado professor de Teologia do Seminário Episcopal e também foi convidado a ministrar o catecismo na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, pelo Padre José Inácio de Carvalho Freitas.

Nos sábados auxiliava na distribuição de esmolas da Igreja para famílias carentes. Um certo dia encontrou entre os pedintes uma viúva inválida, Ignácia Kremitz, com sua filha pequena, Josefina. Emocionado com a situação delas, se responsabilizou pela criação da menina, levando-a para o Asilo Sagrado Coração de Maria. A partir de então o Padre Cacique voltaria seus esforços para aliviar as dificuldades dos órfãos, pobres e doentes. A partir daí outras meninas foram recolhidas pelo padre, que iniciou uma campanha para angariar recursos. Contudo, o padre tinha ideias inovadoras sobre educação, que não eram bem recebidas pela direção do asilo. Então, ele levou suas protegidas para outra instituição, o Colégio Santa Catarina, dirigido por Rita e Emília Souto Mayor, como uma solução temporária, uma vez que ele já idealizara a fundação de uma instituição que pudesse dirigir pessoalmente.

Anos antes o imperador D. Pedro II havia patrocinado a construção de uma escola na cidade, o Colégio Santa Teresa, cujas obras iniciaram em 1846, mas haviam sido interrompidas e a estrutura inacabada estava parada. As atividades educativas e sociais do padre já eram conhecidas em Porto Alegre, e em vista da sua boa reputação não lhe foi difícil conseguir o apoio de várias autoridades para pleitear junto ao imperador a concessão do edifício. Munido de cartas de recomendação do presidente da província, da Câmara Municipal, do chefe de polícia e de um abaixo-assinado com os nomes de muitos próceres locais, o Padre viajou até a Corte para entregar o pedido em mãos do monarca, que concedeu-lhe a posse do imóvel e da chácara onde ele se situava, estipulando que ele deveria ser convertido em uma escola-internato para educação de pelo menos vinte meninas órfãs, pondo a fundação, o programa de ensino e os futuros funcionários e professores sob a supervisão do governo provincial. Com doações recebidas de famílias mais abastadas de Porto Alegre, o padre conseguiu finalizar o Colégio Santa Teresa em 1865, que passou a abrigar as suas meninas órfãs e poucos anos depois, em 1867, absorveu também as funções do extinto Asilo Santa Leopoldina, que recolhia os expostos da Santa Casa de Misericórdia.

As alunas internas recebiam uma formação incomum para os padrões provincianos referentes à educação de meninas. Além de ensinamentos de economia doméstica, artes manuais, moral e comportamento, o currículo incluía lições de Astronomia, Física, Química e Mecânica, e era-lhes dado acesso a revistas científicas e outras obras literárias. Elas recebiam também uma ajuda do governo provincial, e complementavam seus ganhos com trabalhos manuais e confecção de roupas, auxiliando as meninas a formar um dote para seu eventual casamento. Para manter o educandário o Padre Cacique mantinha uma campanha permanente para coleta de fundos, muitas vezes batendo de porta em porta por esmolas, e aumentava suas rendas vendendo traduções que fazia de obras didáticas e edificantes. 

Sua atuação na Escola Normal, atual Instituto de Educação Flores da Cunha, também foi exemplar. Fundada em 5 de abril de 1869 como um departamento do Liceu Dom Afonso e com a finalidade de preparar professores para o ensino primário, passou a funcionar no dia 12 de maio somente com doze alunos.] Em 1872 ganhou independência e uma sede própria. Então o Padre Cacique reformou o currículo da escola, separando a Pedagogia da Gramática e assumiu a cadeira de Pedagogia, além de se responsabilizar pelas disciplinas de Caligrafia, Gramática, Catecismo, História Sagrada e História da Igreja. Várias das internas do Colégio Santa Teresa se formaram professoras posteriormente, estudando na Escola Normal, entre elas Josefina, sua primeira protegida, que após a formatura passou a dirigir a Escola Prática anexa à Escola Normal.

Ele também criou a Caixa Econômica Padre Cacique, uma caixa de poupança para famílias e crianças pobres. Fundada em 1884, em apenas um ano havia registrado mais de mil e setecentas contas, que somavam um total de mais de 10 contos de réis, sendo destacada na imprensa como um exemplo de prática de economia, para a caridade.

Em 1892, preocupado com o destino das suas obras após sua morte, criou uma fundação mantenedora, a Sociedade Humanitária Padre Cacique, com um Conselho Administrativo composto por influentes personalidades porto-alegrenses. Continuou na direção, contudo, até falecer. Em 1894 criou um serviço para atendimento médico, assistência religiosa e sepultamento de desvalidos.

Em 1906 sua saúde já estava abalada e ele já havia destinado tudo o que tinha para a caridade, seu patrimônio contava com a vultosa quantia de 850 contos de réis e ainda planejava a fundação de um asilo para os expostos e meninos pobres. Faleceu em 15 de maio de 1907, em Porto Alegre, devido a problemas cardíacos. 

Sua morte foi muito lamentada, e o sepultamento atraiu uma multidão. Carregaram o caixão o presidente do estado Borges de Medeiros, o intendente de Porto Alegre José Montaury, e os capitães Inácio Montanha e Francisco Rocha. O enterramento foi pago pelo município, que também financiou um túmulo no cemitério católico da Santa Casa.

O asilo para meninos que o padre concebera no final da vida viria a se materializar através do trabalho da Sociedade Humanitária, com o nome Asilo São Joaquim, inaugurado oficialmente em 18 de agosto de 1936 durante as comemorações pelos 105 anos de seu nascimento. O Colégio Santa Teresa funcionou sob a direção da Sociedade Humanitária até 1946, quando foi encampado pelo Estado e recebeu nova destinação. O Asilo de Mendicidade (Asilo Padre Cacique) ainda está em funcionamento e abriga muitos idosos. O prédio do asilo foi tombado pela Prefeitura de Porto Alegre em 2007.

O antigo Asilo São Joaquim atualmente é a sede da Fundação de Atendimento Sócio-Educativo e seu prédio foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul (IPHAE) em 2013. O antigo Colégio Santa Teresa hoje é o Centro de Atendimento Sócio-Educativo Padre Cacique e seu edifício também foi tombado pelo IPHAE.

Em 1917, seus restos foram transferidos para um sarcófago aos pés do altar da capela do Asilo de Mendicidade.

Texto de Miriam Lima

Fonte: Wikipedia

Imagem: Asilo Padre Cacique

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