A Vila Assunção foi o último arrabalde a ser loteado e urbanizado, na zona sul de Porto Alegre, essas terras pertenciam a Sra. Felisbina Maciel Assumpção, viúva e herdeira de José Joaquim Assumpção, em 1936.
Se voltarmos uns 200 anos, lá por 1735, descobriremos que a zona sul era a sesmaria doada pelo Rei de Portugal á Dionisio Rodrigues Mendes, e era uma das três que formaram a cidade de Porto Alegre. Até hoje permanece o nome “Ponta do Dionísio” a parte que era o porto da sesmaria, na época, margem do Guaíba, onde hoje é a Vila Assunção. No local também existia um depósito de pólvora da Prefeitura, e que foi destruído por uma explosão em 1831.
Mas voltando ao Sr. Assumpção, ele adquiriu a gleba de 130 hectares em 1888, antes disso as terras eram originalmente de descendentes diretos de Dionísio Mendes: os filhos de Manoel Sanhudo e Lourenço Pinto Miranda Filho, o “Tatibitate”, que já conhecemos da história do bairro Tristeza. Depois as terras foram vendidas pelos herdeiros de Sanhudo, para outro cidadão, e depois para Assumpção.
José J. Assumpção era federalista declarado, e durante a revolução de 1893 foi obrigado a se exilar no Uruguai, ele nasceu em São Borja, e dona Felisbina Amelia de Resende Maciel, era filha de militar de uma família tradicional de Pelotas. Enquanto ele estava no exílio, seus adversários políticos, construíram a ferrovia do Riacho, para despejar os dejetos na ponta do Dionísio, sem a sua autorização.
Quando voltou, não entrou em acordo com a Prefeitura, que foi obrigada a retirar os trilhos e o trapiche, e recoloca-los na Ponta do Melo, no bairro Cristal, também já contamos essa história por aqui.
Assumpção teve várias atividades em suas terras, como agricultura, criação de gado, pedreira, olaria e charqueadas, ele faleceu em 1918, com 74 anos de idade, e as terras ficaram para a viúva.
Seguindo a cronologia, em 1919 foi aberta uma grande avenida, contornando a margem do Guaíba, que vinha do Bairro Menino Deus até o Bairro Tristeza, em 1926 começaram a circular os ônibus nessa avenida, que só foi pavimentada em 1931. Causando o início da queda do movimento da Ferrovia.
Em 1936, dona Felisbina fez sociedade com os arquitetos Ernesto e Annibal Di Primio Beck e foi criada a “Immobiliária Villa Assumpção Ltda”, responsável pelo loteamento e urbanização ficou o arquiteto urbanista Ruy Leiria, que fez um projeto de altíssima qualidade e recebeu aprovação da prefeitura em 1938.
Em 4 de abril de 1939, mudou-se o primeiro morador do loteamento, o sr. Eduardo Henriques, depois vieram: Gabriel Pedro Moacyr (prefeito de Porto Alegre em 1947-48), José Bertaso (Livraria e Editora Globo), Nilo Ruschel (radialista e historiador), os próprios incorporadores Ernesto e Annibal Di Primio Beck, o arquiteto Ruy Lieira.
Em 1940 já haviam sido vendidos 20% dos lotes e em 1941 iniciou-se o serviço de barcas entre Porto Alegre – Guaíba, o que proporcionou o serviço regular de ônibus para o bairro, as barcas funcionaram até 1958, ano que foi inaugurada a ponte levadiça do Guaíba.
Sobre a Vila dos Pescadores, que se formou em torno de 1941, na orla da Vila Assunção, temos duas versões na literatura, a primeira fala que os pescadores vieram morar ali para aproveitar o movimento das barcas e venderem seus peixes. A segunda versão nos conta que os pescadores vieram oriundos da Ilha da Pintada, quando da grande enchente de 1941, já que o lugar “era bom para pescar bagres”, segundo relato de moradores antigos.
Hoje observamos que a Vila Assunção mantém seu propósito inicial, um loteamento estritamente residencial e tranquilo.
Texto: Miriam Lima
Fontes: Vila Assunção – André Huyer; A Paisagem Urbana e o pescador – TCC – Fernando Rosa da Rosa
Imagens: anais.anpur.org.br – facebook/portoalegrefotosantigas