Hoje vou contar a história do casarão que fica localizado na Av. Teresópolis e tem por finalidade o abrigo de presos dos regimes aberto e semiaberto, porém o Patronato não somente “abriga” esses presos, mas também oferece orientação técnica e profissional, para a reinserção deles na comunidade, após a libertação.
Mas ao contar a história do Casarão, também tenho que contar a história da fundadora do Patronato, Maria Ribeiro da Silva Tavares, pois sem ela o Patronato não existiria.
Maria Tavares nasceu em Pelotas, no ano de 1912. Nos anos 30 era funcionária da Prefeitura de Porto Alegre e formou-se como Assistente Social na década de 40.

Certo dia ela encontra uma senhora na Avenida Ipiranga, cujo filho estava preso na Casa de Correção, e a mãe não foi autorizada a visita-lo, dona Maria sensibilizada com a situação da outra mulher, conseguiu uma autorização judicial para que a mãe visitasse o filho. Ela acompanhou a senhora e peça primeira vez se deparou com a realidade do local, que para quem não sabe ficava ao lado da Usina do Gasômetro, muitas vezes a Casa de Correção ficava inundada devido as cheias do Guaíba.
Aqui começa a história de dona Maria Ribeiro junto ao sistema carcerário, ao preparar seu Trabalho de Conclusão da Faculdade, começou a estudar os sistemas de outros modelos de penitenciárias. E antes mesmo de se formar, mas já como funcionária da prefeitura, redigiu um ofício e pediu a assinatura do Prefeito para que 36 presos ajudassem na obra da canalização do Arroio Dilúvio, o juiz responsável ainda cedeu 2 caminhos para que os presos fossem levados ao local de trabalho e voltassem para a Casa de Correção à noite, mesmo achando que poderia haver uma fuga em massa desses homens.
Esses presos foram quem sugeriram à dona Maria a criação do Patronato, ocupando uma área de 1,35 hectares do bairro Teresópolis, o casarão foi comprador por Cr$ 8 mil, dos quais 3 mil saíram do bolso de Dona Maria. A partir desse momento, surge um conceito diferente de família grande e singular como nenhuma outra. Movida, principalmente, pela confiança e essa era a palavra chave que regia a nova casa, pois dona Maria acreditava que: “Não são criaturas irrecuperáveis, mas existem métodos convencionais”, ela procurava em cada um deles aquilo que havia de bom, por menor que fosse. A partir daí, o trabalho individual de melhoria inicia, executando o sucesso na recuperação e ressocialização dos detentos.
A criação oficial do Patronato foi no dia 8 de outubro de 1947. E foi escolhido o nome do criminalista João da Costa Lima Drummond. Lima Drummond ensinava que: “É de importância fundamental para o bom êxito do patronato o tratamento dispensado ao condenado durante o cumprimento da pena, mas observava que além da vida carcerária deve estender-se a ação do patronato, sendo mister que, ao deixar a penitenciária, o ex-encarcerado encontre trabalho imediato.”
O patronato é uma sociedade civil autônoma, vinculada à Superintendência dos Serviços Penitenciários do Estado (Susepe) que, por contrato, cede suas instalações em troca de recursos materiais e humanos. Lá não tem muros e nem grades. Existem convênios com órgão, como o SEBRAE, SENAI e SINDUSCON, por exemplo, que oferecem oficinas de empreendedorismo e cursos profissionalizantes aos presos.
O casarão principal, onde no início morava Dona Maria e atualmente sede da instituição sofreu um incêndio em 1996, e em 2015 a SUSEPE liberou a verba para a recuperação do prédio.
Dona Maria Ribeiro morou no Patronato a partir daí, era carinhosamente chamada pelos apenados de “Vó Maria” e os chamava de “anjos”. Sempre com uma conversa carinhosa para quem a procurasse, muitas vezes chegou a pedir dinheiro para seu filho, para ajudar a pagar luz ou comprar gás ou comida na casa de algum detento, que passasse por dificuldades.
Maria Ribeiro foi homenageada como cidadã Emérita de Porto Alegre em 1987, não encontrei nenhuma rua com o nome dela na cidade de Porto Alegre.
Já no final de sua vida, Maria resolveu continuar morando no terreno do Patronato, onde tinha uma casinha de madeira e era cuidada pelos presos.
Ela faleceu aos 102 anos, em 21 de setembro de 2014 e o seu caixão foi carregado pelos seus “anjos” os detentos.
Texto: Miriam Lima
Fontes e Imagens: https://medium.com/@luassis/b6702461f9ea consultado em 22/06/2022 às 9h30min
http://limadrummond.blogspot.com/2014/ consultado em 22/06/2022 às 10h05min
https://www.fuipreso.com.br/musa consultado em 22/06/2022 às 10h15min